A manhã desta quarta-feira (26) marcou um novo passo na política de qualificação profissional voltada para mulheres em Camaçari. A Secretaria da Mulher (Semu), em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), deu início às atividades da primeira turma do curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA) integrado à formação profissional, dentro do programa federal Seja Pro + Trabalho e Emprego. Cerca de 25 mulheres participaram da aula inaugural.
A formação ofertada é a de Agente de Inspeção de Qualidade, unindo capacitação técnica e conclusão da escolaridade básica. A proposta permite que mulheres com ensino fundamental completo finalizem o ensino médio em regime semipresencial. Com duração de oito meses, as aulas ocorrerão de terça a quinta-feira, ministradas por professores do Sesi e Senai na sede da Semu, na Rua Goiás, nº 79, no Centro. O programa também oferece auxílio permanência mensal de R$ 150 para garantir a continuidade dos estudos.
A criação da iniciativa foi baseada em uma pesquisa conduzida pela Semu por meio do projeto Mulher com a Palavra, que identificou que muitas mulheres atendidas não haviam concluído o ensino médio. A secretária Branca Patrícia destacou o compromisso da gestão com a proteção e a autonomia feminina, especialmente para aquelas em situação de vulnerabilidade.
“O curso é aberto para todas as mulheres de Camaçari, mas com um percentual de oportunidades para as vítimas de violência. Entendemos que, através da qualificação e da inserção no mercado de trabalho, conseguimos quebrar esse ciclo. Ontem, 25 de novembro, foi o Dia Internacional de Combate à Violência contra as Mulheres e a Semu vem trabalhando incansavelmente, com o objetivo de que Camaçari seja uma cidade de feminicídio zero, acolhedora, protetora e conectada com as mulheres”, afirmou.
A coordenadora pedagógica da EJA no Sesi, Natália Teixeira, ressaltou o caráter pioneiro da ação.
“É a nossa primeira turma afirmativa e exclusivamente feminina. O Sesi trata de educação regular para jovens e adultos. Estamos aqui para auxiliar que essas mulheres terminem o ensino médio e, além disso, saiam com uma profissão e possam expandir e ingressar no mercado de trabalho totalmente qualificadas. Costumo sempre encorajar as meninas, trazendo o lema de que se as portas estiverem fechadas, a gente arromba”, afirmou.
Já Valéria Azoubel, coordenadora dos cursos no Senai, enfatizou o impacto transformador da formação.
“Esse momento inaugural das aulas é muito gratificante, vemos estampado no rosto de cada uma a emoção. O curso, em si, é muito promissor, tendo em vista a região de Camaçari, que tem essa potência industrial. Será uma longa caminhada, e o nosso desafio é fazer com que essas mulheres não desistam e cheguem até o final do curso, saindo daqui com outra perspectiva de vida”, ressaltou.
Entre as participantes, a sensação era de recomeço e esperança. Marcely Karoline Rocha, 38 anos, destacou o significado do momento após enfrentar dificuldades pessoais.
“Voltar a estudar sempre foi meu sonho, mas faltava oportunidade. Fui vítima de violência doméstica, tenho dois filhos para criar e Camaçari me acolheu. Há tempos venho lutando e a hora de recomeçar chegou. Estou sendo abraçada e motivada a construir um futuro melhor para mim e minha família. Tenho planos também de, mais tarde, ingressar na universidade”, compartilhou.
Para Vanessa de Araújo, 32 anos, a chance de concluir os estudos e cursar uma formação técnica representa uma transformação pessoal e familiar.
“Nunca imaginei ter a oportunidade de fazer um curso técnico enquanto concluo o ensino médio. Estou emocionada, é uma porta que se abre para o mercado de trabalho, e estou determinada a aproveitar ao máximo. Quero também que meu filho tenha orgulho. Como posso cobrar que ele estude se eu não fiz isso? Mas, agora, isso vai mudar”, contou.
Com o início da primeira turma, a Prefeitura reforça o papel da educação como ferramenta central de inclusão e mudança social. O programa deve ganhar nova edição no início do próximo ano, destinada às mulheres residentes na orla do município.

